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Salvador, Bahia 28/09



Na manhã de hoje me deparei com uma cena ridícula sendo protagonizada pelo grupinho “As poderosas”, elas obrigavam e insistiam que a Naca (Ana Carol) fizesse suas atividades escolares. Como estava com um plano em mente e já tinha fechado parceria com a minha mais nova BFF, me aproximei dela e das meninas e comecei a tratá-la super mal. Adivinha? As três a-m-a-r-a-m, morreram de rir. Fiquei meio triste de ter falado as coisas que falei para minha amiga, mas não entreguei o ato e pensei: “Bem que minha mãe sempre disse que eu levava jeito para ser atriz”. Dessa forma, ganhei a confiança das poderosas, ou seja, elas acreditaram que havia algum tipo de desavença entre Ana Carol e eu. E já que vocês devem estar perdidos nessa história toda, então vou dar um pouco de background aqui.


Comecei a falar com a Naca com mais frequência, principalmente por mensagens para não levantar suspeitas das “Poderosas”, até criamos um nome para a nossa dupla: As Descoladas. Já promovemos muitos encontros na minha casa para conversarmos sobre o plano para derrubar o sistema medíocre dessas horrorosas pela raiz e, o mais importante de tudo, sem prejudicar a minha BFF. Inclusive, a Naca já tinha muitas informações sobre o grupinho, mas nunca teve coragem de bater de frente e me contou que existem três grandes pilares que sustentam essa monarquia: O primeiro deles é Felipe Barigchun, um menino misterioso, com estatura média, olhos tom castanho esverdeado, e que está sempre de camisa polo e tênis. Ana Carol me revelou que o pai dele é dono de uma das maiores e mais famosas redes de hotéis de Salvador, e ele é o único herdeiro. Ou seja, Felipe é podre de rico e está saindo com Soll, que faz ele bancar todas as mordomias das Poderosas: as roupas de marcas, as idas ao shopping, passeios de lancha, enfim, tudo!



O segundo é Raiman. Estudante de jornalismo, ele anda sempre de óculos escuros dizendo que é seu charme. Apesar de ser um garoto esperto, infelizmente acabou caindo nas garras das três víboras, que fazem ele de gato e sapato. Da mesma forma que Ana está sendo chantageada, provavelmente, “As poderosas” também tem alguma fofoca que vai deixar ele na lama. Então o usam para executar várias tarefas, estas vão de comprar lanche para elas, até investigar outras informações bombásticas dos alunos da UFBA toda. E o terceiro e último pilar vai ser o peão final que garantirá o xeque-mate desse jogo de xadrez: a queda da imagem de boas moças. “Nossa, não imagino Soll, Clara ou Vanessa fazendo isso”, mas que inferno! Óbvio que essa pose é só fachada, e é isso que vamos ter que desmascarar para toda universidade.


Depois de muita discussão fechamos em um plano que estamos botando em prática neste exato momento: estou me aproximando das "Poderosas'', tentando me infiltrar no ninho de cobras. Dessa forma, vou conseguir ter mais contato e seduzir o Barigchun, assim o grupinho ficará sem a “carteira” delas. Da minha união com as patricinhas, irei conseguir acessar as suas redes de fofocas e entender qual a tática de manipulação usada por elas para convencer o Raimam a fazer todas as suas vontade. E, a partir disso, cortar o contato de ambos, ou seja, cortando esse laço as Poderosas irão ficar sem seu espião de ouro. Enquanto isso, Ana Carol vai dar o apoio tático e assegurar que tudo está acontecendo do jeito que é para acontecer, documentando tudo para, enfim, ver a carapuça delas caindo com os prints, fotos e áudios que coletamos.


E assim voltamos para o presente. Sim, agora estou andando com “As Poderosas”. E foi mais fácil do que pensávamos, mas só o que vai pagar as horas excruciantes desses papinhos delas: as fofocas não edificantes de Clara, as loucuras de Vanessa e todos esses detalhes que recebo sobre os boys de Soll, vai ser a cara que irão fazer quando verem com quem se meteram.



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Atualizado: 7 de dez. de 2023

Salvador, Bahia 03/10



Dias vão e vem, mas finalmente consegui uma abertura e joguei meu charme para Felipe Barigchun. Não foi nada fácil, pois além da Soll não tirar os olhos do seu boy a faculdade inteira também sonhava em ficar com ele. Mas, naquela mesma tarde ele virou para mim e perguntou:


- Que dia é hoje? - Por pura coincidência era dia 3 de outubro, uma das quartas feiras em que as poderosas tiravam para usar rosa e chamar atenção de toda a faculdade.


O que ninguém esperava era que, por mais que tenhamos passados curtos 30 minutos conversando, parecia que éramos amigos de longa data. Quando estava perto de conseguir chegar nas informações que iriam acabar com o mal das patricinhas pela raiz, ele recebeu uma ligação inusitada da sua professora Michelle, chamando para comer um tal chocolate em algum canto da cidade. Ele se despediu de mim e já foi se desculpando...


- É que a turma já tinha marcado esse encontro, desculpa de verdade, mas toma meu número e amanhã a gente pode se encontrar nesse mesmo horário por aqui.


Eu toda feliz só peguei o número e concordei, deveria estar triste por não conseguir uma fofoca fresquinha? Ahá! Mas agora que vem o plot twist. Eu, que não durmo no ponto, notei quando começaram chegar as várias mensagens no celular dele durante nossa conversa. Estiquei as vistas para dar uma olhada e, para minha sorte, consegui ler uma que dizia exatamente assim: “Me encontre urgente depois que sair do shopping, a casa caiu”, eu não sei dizer se era a Clara ou a Vanessa, mas pela forma séria de escrever tenho certeza que não era a Soll. Liguei correndo pra Naca e, como um foguete, fomos direto pro shopping entender que babado era esse, para quê essa emergência toda?


Ainda bem que nem chegamos a gastar o dinheiro da passagem, o destino sorriu para nós. Agradecemos tanto por não ter que ter pego o busão no horário de pico. Quando estávamos no ponto de ônibus prontas para embarcar, outra bomba caia sobre as nossas mãos, uma mensagem da Clara Wieners. A dita cuja tinha misturado as conversas, recebemos a informação de bandeja, ficamos boquiabertas, simplesmente não reagimos! Era bem assim: “O nosso Burn Book sumiu”. Não durou um segundo e… BUM… Mensagem apagada.


Me lembro que durante algumas das poucas visitas que fiz até a casa das “Poderosas”, elas chegaram a mencionar esse Burn Book, inclusive, recordo uma das falas: “Nosso livrinho dos segredos mais cabulosos da UFBA”, e que segundo elas ninguém estava ileso de estar presente naquele livro. Até pedi para dar uma conferida, mas meu pedido foi negado. Me disseram que eu ainda não era próxima o suficiente para ter acesso aquela sequência de informações que estavam contidas ali.


Após relatar isso para a Naca, percebi uma mudança brusca em sua face, ela falou super empolgada que tinha algo para me contar. Me mandou fechar os olhos e só abrir quando ela ordenasse, “1,2,3, e pode abrir”, disse. Quando olho para frente levei um susto, ela estava com o famoso “Burn Book” em mãos. No primeiro instante não acreditei, pedi para ela me beliscar e quando a ficha finalmente começou a cair perguntei:


-Amiga, como você conseguiu ter acesso a este livro? Ele vive guardado a sete chaves, ninguém pode tocar nele.



Logo, começou a me falar que durante esse tempo que eu seguia na luta para ter mais proximidade com o Barigchun, ela estava dando um jeito de se aproximar do Raimam. Também me disse que ele não aguentava mais passar pelas humilhações do grupinho, eles tiveram conversas muito profundas e no fim ela o convenceu de se juntar a nós para desmascarar as três de uma só vez. Assim, o picadeiro estava armado e, enfim, o show pôde começar.


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Salvador, Bahia 04/10



Era um dia chuvoso, o vento frio acolhia os estudantes da UFBA naquela manhã. Trovões eram a trilha sonora, como se o céu pudesse sentir o que estava prestes a acontecer. Com a mãe natureza pintando uma cena dramática, entrei no RU com as Poderosas, cumprindo meu papel de espiã. Um coup d'etat estava por vir, atingindo justamente o ponto mais fraco delas, cometeriam o mesmo erro de suas mães.


Enquanto as distraía com qualquer conversa fiada, Ana Carol e Raimam já estavam disparando nas linhas de transmissão do whatsapp as fotos das páginas mais comprometedoras do “Burn Book”. E eu não pude deixar de conferir de perto a expressão das Poderosas quando viram que ninguém guardou a mesa favorita delas, sem contar a cara de espanto que fizeram quando notaram os olhares reprovadores direcionados a elas. Impagável! A vingança é realmente um prato que se come frio!


Clara falava “Todos acordaram com a pá virada”, Soll indagava “Cadê a educação desse povo” e Vanessa sem entender nada (bom isso não era tão incomum, mas mesmo assim foi uma boa cena). Quando os meus dois cúmplices finalmente chegaram ao fatídico local, as três foram logo se queixar exasperadas, exigindo explicações. Mas as respostas de ambos foram diferentes, me juntei a eles e o queixo delas caíram. Ana começou: “Hoje não!”, Raiman complementou “Nem venham”, e finalizei a jogada: “Acabou para vocês”.


Toda a atenção do RU estava em nós, Vanessa tirou o celular de alguém passando e viu tudo que foi encaminhado para t-o-d-o-s estudantes da universidade. Clara estava ficando vermelha como um pimentão, Vanessa praguejava insultos. “Sandrinha está viciada em curso de coach”, “Marcelo investiu 10 mil reais em criptomoeda”, “Milena vai em Feira de Santana comprar bolsa da Gucci no feiraguai e diz que é original”, tim tim por tim tim todos as fofocas que as poderosas guardavam. Mas, estranhamente, Soll estava calma, e isso me incomodava profundamente. Até que, como o primeiro raio anunciando uma tempestade, aquela cínica resolveu subir na mesa e abrir a boca para fazer o circo dela:


- Parabéns, quem não sabe fazer cópia mesmo! Que lindo, se inspirando na minha mãezinha. Acho engraçado que deixaram de fora justamente as mais bombásticas, não é? Acho que todo mundo deve estar curioso para saber o porque a queridíssima Ana Carol roubaria nosso Burn Book… ou devo dizer, Ana Maria? A queridinha e melhor aluna da classe “Ana Carolina” são duas pessoas vivendo uma só vida, pois é pessoal. Depois que uma das gêmeas não conseguiu passar no vestibular decidiram que levariam a vida assim. O esquema é o seguinte: todas as vezes que temos alguma atividade avaliativa que a Ana Maria tem mais afinidade é ela que comparece e vice-versa. - Revelou Soll em alto e bom som.


ESSA COBRA! Dá para acreditar, jogando minhas amigas Anas debaixo do ônibus mesmo depois da queda de seu reinado. E a Ana Carol que tinha ficado do lado de fora só observando o grande evento, apareceu timidamente e se revelou. Todo o restaurante arregalou os olhos e gritou exclamações. Mas a “Dissimulada George” não parou por aí e seguiu com as ofensas:


- Ah, Raiman, você acha que se safou? Meu querido, não se preocupe, você vai ter o que merece. Quantas aulas você atendeu? Nenhuma? Bem que pensei! Ele falta todas para ficar paquerando as meninas na cantina. Quando descobrimos isso ele se desesperou para manter sua imagem de bom moço para os seus pais, que são conservadores e jamais apoiariam esse tipo de atitude. Certamente dariam um jeito de tirá-lo daqui e acabaria com o seu sonho de ser um dos maiores comunicadores desse país. Então, por pura compaixão, trocamos nosso silêncio por alguns favores. Ao nosso mando ele descobriu grandes partes dos segredos que estão aí para todo mundo ver agora. E você… você… sua…


Não aguentei mais um segundo e interrompi a víbora, não suportava mais: os risinhos irônicos de Clara, o deboche de Vanessa e principalmente o tom de superioridade de Soll enquanto falava todas essas calúnias! Que bom que Ana Maria era uma boa estrategista, e sugeriu de guardar uma das bombas para justamente ser uma carta na manga. Sem mais delongas, revelei para todo o RU que tal segredo era esse:


- Pode parar por aí… Engraçado que vocês tem papas na língua para falar de todo mundo, mas ninguém imagina a podridão que você fez.


A vida das poderosas já estava prestes a ser totalmente desvendada, afinal esse babado poderia acabar com toda a reputação que um dia elas criaram, a cereja do nosso bolo. Essa era a hora, a hora do MEU show:


- Elas parecem apenas um trio de meninas egoístas, mas por que você não contou Soll? Que foi expulsa da melhor faculdade de Beverly Hills depois de ficar com o diretor da Faculdade? Teve que vir direto para a UFBA e ainda tá se relacionando com gente grande daqui só pra não reprovar.


Óbvio que ela não iria ficar calada:


- E você não vive sem mim, né? Seguiu os meus passos para observar a minha vida e ainda se misturou com esse pessoal: Ana Carol e Ana Maria, que estão simplesmente mentindo para um órgão público, mas você… você é a perfeitinha, ou ninguém sabe que você é filha da Cady Heron? - E ela não parou por aí - O desespero estampado na sua cara me faz rir, você sempre escondia seu sobrenome do meio, não é Caren Heron. É isso aí gente, a mãe dela foi a talzinha que empurrou minha mãe para ser atropelada por um ônibus. Notei que não tinha algo certo com você à primeira vista, e fiz minhas investigações, ou melhor, Felipe Barigchun fez as análises. Deixou você se aproximar dele para plantar uma escuta na sua bolsa. Se liga minha filha, essa busca incessante, essa sua fixação com a gente, vai se tratar garota!


Como ela OUSOU? Não acreditei! Tinha certeza que tinha limpado todos os rastros, que inferno! Paguei um hacker para tirar tudo o que tinha sobre mim e minha mãe da internet. Quem ela acha que é para contar uma dessas mentirinhas sobre minha mãezinha? Foi depois de começar a andar com as poderosas originais que Cady ficou fútil e fofoqueira. Eu tinha que fazer algo por aquela que me criou, fazer essas patricinhas pagarem! Estragar minha vingança perfeita, meu trabalho de anos? Ingressei nessa universidade por causa disso! Cobra cascavel sempre quer sair por cima de todas as situações. Tudo começou a girar e a girar, mas ainda bem que Naca estava lá comigo, me parou antes da minha síncope completa. Ana não tinha apenas 1 fofoca, ela tinha uma lista gigantesca que podia acabar com a vida de qualquer uma ali.


- Não queria contar isso, mas já que vocês insistem…


Agora que o fim foi declarado e elas já não tinham mais pra onde fugir era possível ver nitidamente o suor escorrendo na cara sínica e maquiada da Soll, a Vanessa se escondendo no meio da multidão, Clara e Felipe estavam prestes a correr e deixar a amiga em apuros, enquanto Naca continuava com o seu discurso em alto e bom som:


-Respeitável público, se preparem, máscaras vão cair após essa edificação, a maior e mais comprometedora polêmica de todas…


A bomba estava por vir, os olhares atentos se voltaram para ela. Afinal, o que de tão mais grave as poderosas tinham feito? O silêncio se ecoava pelo RU, mesmo lotado de pessoas era possível apenas escutar a respiração ofegante de todos. A curiosidade dos colegas deixavam “as Poderosas” cada vez mais acuadas e com medo do que poderia vir a acontecer. Mas me juntei à Naca e falei.


-Não pensem que elas são apenas garotinhas egoístas e que apenas roubam o namorado de vocês! Quantos celulares sumiram só nesse último mês?


Ana Maria caminhou por todo restaurante mostrando a foto do QG das poderosas, o apartamento que as três dividiam. Eram milhares de celulares espalhados, carteiras e mais carteiras, mochilas empilhadas. Pela quantidade de coisas no retrato, as Poderosas tinham furtado de provavelmente todos os estudantes da UFBA!



Foi aí que a confusão se instalou de vez. A Soll, que até então estava calma, foi consumida por uma raiva paranormal. Ela não se conformou com o que foi dito e pegou um copo de suco que estava em uma das mesas e jogou na cara da Naca. Ana Carol por sua vez, não deixou barato, pegou uma torta e jogou na cara da Soll. O RU se transformou em uma verdadeira guerra de comida, com muita gritaria e bagunça para todos os lados. Quem estava reconhecendo seus pertences na fotografia também partia para a pancadaria. Perto das paredes havia gente gritando: “Briga! briga!”. Unhas postiças voando, quem tentava apartar todo o caos era pego no meio na briga generalizada. As nojentas xingando e se estapeando, parecia uma selva de verdade! Ali ninguém era amigo de ninguém: levei soco, pontapé, purê de batata no cabelo, mas não deixei barato - dei tudo em dobro!


Com todo esse caos instalado foi quase impossível ouvir a sirene da polícia chegando, as luzes vermelha e azul anunciaram a chegada da viatura no quarteirão. Toda aquela algazarra se transformou em um clima de medo, aos poucos as pessoas iam se afastando e a aglomeração se dissipando, deixando apenas os originalmente envolvidos na briga ao centro. Quando a sirene da polícia ficou mais perto só se ouvia cochicho das pessoas:


-Acho que agora deu merda


-A gente não fez nada, só esse grupinho ai


-Vamos embora logo guys.


Em questão de segundos a polícia já estava na porta com o diretor para acabar com a energia selvagem que existia por lá. As pessoas que sobraram abriram caminho para as autoridades. Eles deram de cara com o grupinho das Poderosas sujas de torta, descabeladas, com unhas perdidas, roupas com marcas de maquiagem e rasgadas.


Com a chegada da polícia todas tiveram que ir para a delegacia depor, inclusive eu. O ambiente parecia a volta de uma festa bem “sexo, drogas e rock’n roll”, mas na verdade era apenas uma briga de faculdade. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida, mas advinha? As poderosas estavam lá arrumando seus cabelos, colando o cílios que haviam caído e passando base por cima de cada arranhão que tinham em seus rostos. Afinal, criminosas sim, feias jamais né?


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