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Salvador, Bahia 25/09


São 08:00 da manhã e o grupinho “As poderosas” acabou de chegar, agora é o momento que parece que a UFBA inteira gira em torno delas. Os estudantes abrem espaços pelos imensos corredores para que elas possam desfilar livremente, meninas e meninos não escondem sua admiração e imploram por um minuto de atenção.


- Elas são tão lindas, um dia serei igual a elas. Descobri que fazem comercial de moto no Turcomenistão.


- Meu sonho é namorar com alguma delas. Uma vez Soll me deu um tapa… foi demais!


Olha, sinceramente eu não consigo entender o motivo de tanta bajulação com essas meninas, alguns chegam até a gaguejar perto delas e a impressão que eu tenho é que todos estão hipnotizados.


Elas são apenas um grupinho de patricinhas mimadas e superficiais que vivem se gabando por serem filhas das poderosas originais: Regina George, Gretchen Wieners e Karen Smith, que mandavam e desmandavam no antigo colégio North Shore. As novas poderosas: famosas estudantes que fizeram história na UFBA? Que nada! Na verdade elas são apenas uma cópia mal feita das suas mães. A do cabelo curto ondulado e olhos escuros é a Clara Wieners, que vive se gabando com o celular na mão e dizendo que nele tem os melhores flagras, por isso está cursando jornalismo jurando que é fofoqueira igual a mãe. A aspirante a Cascavel do Piauí não dispensa uma novidade, inclusive, já a chamaram de portal de informações da faculdade. Seus cabelos cheios de segredos, só não escondem a sua inteligência, já que além de um rostinho bonito ela também é uma das melhores alunas de toda a classe. Três palavras para descrever ela? Fofoqueira, Louca e Sagaz.


Luz...Câmera...Ação? Aquela menorzinha com um lindo cabelo cacheado, conhecida pelo seu famoso bordão: “Meus seios sempre sabem quando vai chover”, é a Vanessa Smith, cursa cinema e é a garota mais lunática do trio, se considera intuitiva e por isso acredita que não precisa estudar para acertar as questões de uma prova. Um dia ela sonhou que ajudava um velhinho na rua, esse velhinho era o Wagner Moura, e adivinha? Uma semana depois ele estava presente em uma das questões de sua prova, o 10 veio. Mas não pensem que por que ela é baixinha não consegue ser a maior quando o assunto é conhecimento, mesmo sua mãe sendo a menos inteligente do grupo, a filhinha Smith é o orgulho do curso de Cinema, ninguém viaja nas ideias mais do que ela.


E o que falar da Soll George? Ela é a líder do grupo, com quadris largos e uma cinturinha invejável, é a mais fascinada pelo universo da moda e maquiagem. Tem o costume de usar e abusar nas produções, todos os dias aparece com cabelos e maquiagens diferentes. Além do mais, houve boatos de que ela deixa um monte de mulheres carecas só para ter mais e mais Laces. O que ninguém imagina é que a cada dia está apaixonada por um boy novo… Barro. Segunda o boy de jornalismo, terça o colega de uma de uma das matérias que cursa, como nas quarta as meninas usam rosa ela inventou de se apaixonar pela amiga da Clara e sair de casal pelos corredores, na quinta um boy misterioso no Porto da Barra e nas sextas ainda não consegui identificar, acho que é um dos meus professores. Depois de sua mãe cair na maldade da velha amiga Cady Haron, e comer barras ultra calóricas acreditando que seriam para emagrecer, a filhinha preferida da Regina começou a cursar nutrição na UFBA e finalmente conseguiu tirar a dúvida da sua mãe: “manteiga é carboidrato?”


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Salvador, Bahia 26/09


Hoje no intervalo fui até o refeitório tomar um milkshake, nesse período o RU fica lotado, o que não é novidade para ninguém, mas hoje estava pior que os dias anteriores e com um barulho absurdo. As filas que davam acesso aos balcões de pedidos pareciam não ter fim. Para piorar a situação, as caixas de som que ficam disponíveis por todo o espaço estavam tocando umas músicas insuportáveis, fiquei uma boa parte do tempo me perguntando quem foi o ser abençoado que escolheu aquela playlist de mau gosto. Então, não demorei muito, entrei na fila e aguardei o momento de pegar o meu pedido. Mas, após finalmente conseguir meu lanche, tive que enfrentar uma outra luta, pois fiquei um pouco perdida em meio a multidão de estudantes que se esbarravam em mim o tempo inteiro. Depois de muito procurar, consegui achar uma mesa disponível. Mas adivinhem? Estava localizada ao lado da imensa mesa em que “As Poderosas” tagarelavam sem parar. Como não tive muita escolha, me aproximei e me sentei discretamente.



Enquanto tentava tomar o milkshake, que estava derretendo por conta do calor, não pude deixar de escutar o que estavam falando. Elas não mediam palavras com as suas afirmações, discutiam entre si sobre uma caloura do curso de nutrição chamada Ana Carol e como ela tinha comportamentos estranhos. Era notório, pude perceber pelo tom de voz, o quanto todas estavam incomodadas com as mudanças repentinas da sua colega e se questionavam:


- Vocês repararam que a Ana Carol está diferente hoje? - Disse Soll, que logo em seguida é interrompida por Clara:


- Tem como não perceber? Até ontem ela estava usando macacão, sandália de couro e top de crochê. Não estou julgando ninguém de ser hippie! 2021 gente, por favor. Mas hoje já veio com blusa social, saia e salto. O que é isso, um circo?


Em questão de segundos deram uma pausa na conversa, apontaram e acenaram para uma garota meio peculiar de cabelo curto e escuro. Usava óculos de sol, uma bolsa enorme da Nike e salto alto, tudo indicava ser a menina que elas estavam falando. Então, elas a convidaram para se sentar na mesa, e quando uma das meninas sugeriu pedir um suco de carambola, o suco favorito da Ana Carol. Para surpresa de todos ela discordou e disse que tinha alergia a esse tipo de fruta, e das sérias, que não poderia sequer se aproximar e que seu corpo ficava vermelho e inchado. Todas ficaram sem reação e tentaram disfarçar o climão que rolou. A Vanessa quase soltou uma fora:


- Mas nós tomamos esse suco… - começou sem ter entendido a situação, e Soll logo cortou, aquela é rápida e mais afiada que uma faca:


- Ah, perdão! Nós nos confundimos, ela quis dizer suco de acerola, né, Clara?.


Depois desse banho de água fria, as três que não são bobas nem nada trataram de inserir um outro assunto na conversa:


- Que tal assistirmos um filme na sua casa, Ana? - indagou Soll. Ela demorou alguns segundos para responder e posteriormente começou a inventar inúmeras desculpas, dentre elas que a TV do quarto estava com problema e tentou fugir do assunto inúmeras vezes. Foi quando a Soll deu o bote final:


- Então está combinado, nos encontramos amanhã às 18:30 na sua casa, prepara a pipoca que do resto nós cuidamos. Sem ter muito o que fazer, e desanimada com o rumo da conversa, Ana respondeu que estava tudo bem.


Assim que a garota misteriosa se ausentou elas seguiram conversando, dessa vez com um tom mais baixo que quase não se dava para escutar e a única frase que consegui captar foi: “Essa semana nós desvendamos esse mistério”.


Me pergunto: A qual mistério elas estavam se referindo? O que elas estavam pretendendo fazer? Coisa boa não deveria ser, tenho certeza. Daria tudo para virar uma mosquinha hoje a noite e saber tudo sobre essa arapuca que as três cobras corais estavam tramando.


Fui tentar me aproximar dessa tal de “Ana”, sabe, me compadeci. Imagine de repente ser obrigada a fazer sala para as poderosas por livre e espontânea pressão. Ela saiu tão azuretada da mesa, que por pouco não bateu com a cara na porta de vidro localizada a sua frente e quase não me escutava chamando-a. Quando me viu, fui logo me apresentando e reforcei a ideia de que agora ela teria uma aliada aqui dentro, tentei mostrar com sinceridade, e peguei o seu whatsapp. Essas três patricinhas de araque acham que podem fazer o que quiserem? Pois, nem vão ver o que as derrubaram quando elas caírem!


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Salvador, Bahia 27/09





Hoje era pra ser o grande dia, eu estava muito ansiosa para saber o que tinha rolado e o que o grupinho havia descoberto. Passava 80% do meu tempo pensando “Será que a Ana Carol tem realmente um segredo? O que será que as Poderosas descobriram ontem?” e, nos outros 20% que me restava, torcia que outra situação acontecesse, para eu voltar a analisar aquelas patricinhas.


Faltava 10 minutos para o horário do almoço, a aula se arrastava e minha atenção já estava em outro lugar. Foi quando, de repente, vi as Poderosas passando pelo corredor muito empolgadas. Pulei da cadeira, inventei uma desculpa para a professora, peguei meu material e me retirei da sala. Ao sair, percebi que elas estavam atrás da Ana Carol. Ela conversava incansavelmente com alguém por telefone, me aproximei das meninas e não pude deixar de escutar a Vanessa Smith cochichando: “Então, é isso”, disse com uma cara de espanto e maldade ao mesmo tempo. Enquanto todas as meninas permaneciam incrédulas, a minha curiosidade aumentava cada vez mais: “Isso o que?” pensei. A fofoca contada pela metade quase mata a fofoqueira.



Depois dessa conversa de levantar interrogações, elas seguiram em direção a Ana Carol. Mesmo estando de longe percebi a preocupação de Ana e as tentativas de desconversar, mas as meninas pareciam insistir no assunto. Então, assim que as três se retiraram, fui falar com ela que estava desolada em um dos assentos próximo a biblioteca. A cadeira que estava um pouco molhada por conta da chuva de mais cedo, as nuvens cinzas e a vibe fúnebre deixavam a cena de apertar o coração. Entreguei a Ana Carol um pano que sempre trazia comigo na mochila, me sentei e perguntei: “O que houve?”, ela me respondeu prontamente que não era nada. Depois de muito insistir, permanecendo ao seu lado sempre reforçando que poderia confiar em mim, chegou um momento que ela se rendeu e começou a desabafar:


- As Poderosas descobriram tudo, foram na minha casa, se fizeram de minhas amigas e armaram pelas minhas costas - disse com a voz embargada e com expressão de raiva.


Pedi que ela se acalmasse e me contasse o que as três descobriram de tão grave para que a deixasse daquela forma, pois só assim eu poderia ajudá-la. Ana continuou:


- A Clara Wieners se aproveitou da minha distração, colocou aparelhos de escutas e câmeras por toda a minha casa, descobriram tudo e agora estão me chantageando.


Ficamos um bom tempo conversando, até que Ana Carol me revelou o seu famoso segredo, fiquei abismada e inconformada. Jamais esperaria isso dela, mas também fiquei muito irritada com aquele grupinho. Quem elas pensam que são para violar a privacidade das pessoas e ainda por cima se aproveitar da situação? Me acalmei, respirei fundo e disse:


- Obrigada, por confiar em mim. Não se preocupe, juntas vamos dar uma lição nessas poderosas de Taubaté.


Ana sorriu aliviada e aproveitei o momento para propor um acordo:


- Vamos armar um plano para descobrir algum segredo delas, assim teremos uma carta na manga e vamos desmascarar o grupinho que é famoso por ser um exemplo de integridade e bondade na UFBA.


Ela ficou radiante, concordou com a nova aliança, me deu um abraço e disse que poderia chamá-la de Naca, um apelido carinhoso usado apenas por amigos próximos. Nos despedimos e combinamos de trocar mensagens quando chegássemos em casa.


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