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Fofoca que edifica e muda vidas.

Salvador, Bahia 04/10



Era um dia chuvoso, o vento frio acolhia os estudantes da UFBA naquela manhã. Trovões eram a trilha sonora, como se o céu pudesse sentir o que estava prestes a acontecer. Com a mãe natureza pintando uma cena dramática, entrei no RU com as Poderosas, cumprindo meu papel de espiã. Um coup d'etat estava por vir, atingindo justamente o ponto mais fraco delas, cometeriam o mesmo erro de suas mães.


Enquanto as distraía com qualquer conversa fiada, Ana Carol e Raimam já estavam disparando nas linhas de transmissão do whatsapp as fotos das páginas mais comprometedoras do “Burn Book”. E eu não pude deixar de conferir de perto a expressão das Poderosas quando viram que ninguém guardou a mesa favorita delas, sem contar a cara de espanto que fizeram quando notaram os olhares reprovadores direcionados a elas. Impagável! A vingança é realmente um prato que se come frio!


Clara falava “Todos acordaram com a pá virada”, Soll indagava “Cadê a educação desse povo” e Vanessa sem entender nada (bom isso não era tão incomum, mas mesmo assim foi uma boa cena). Quando os meus dois cúmplices finalmente chegaram ao fatídico local, as três foram logo se queixar exasperadas, exigindo explicações. Mas as respostas de ambos foram diferentes, me juntei a eles e o queixo delas caíram. Ana começou: “Hoje não!”, Raiman complementou “Nem venham”, e finalizei a jogada: “Acabou para vocês”.


Toda a atenção do RU estava em nós, Vanessa tirou o celular de alguém passando e viu tudo que foi encaminhado para t-o-d-o-s estudantes da universidade. Clara estava ficando vermelha como um pimentão, Vanessa praguejava insultos. “Sandrinha está viciada em curso de coach”, “Marcelo investiu 10 mil reais em criptomoeda”, “Milena vai em Feira de Santana comprar bolsa da Gucci no feiraguai e diz que é original”, tim tim por tim tim todos as fofocas que as poderosas guardavam. Mas, estranhamente, Soll estava calma, e isso me incomodava profundamente. Até que, como o primeiro raio anunciando uma tempestade, aquela cínica resolveu subir na mesa e abrir a boca para fazer o circo dela:


- Parabéns, quem não sabe fazer cópia mesmo! Que lindo, se inspirando na minha mãezinha. Acho engraçado que deixaram de fora justamente as mais bombásticas, não é? Acho que todo mundo deve estar curioso para saber o porque a queridíssima Ana Carol roubaria nosso Burn Book… ou devo dizer, Ana Maria? A queridinha e melhor aluna da classe “Ana Carolina” são duas pessoas vivendo uma só vida, pois é pessoal. Depois que uma das gêmeas não conseguiu passar no vestibular decidiram que levariam a vida assim. O esquema é o seguinte: todas as vezes que temos alguma atividade avaliativa que a Ana Maria tem mais afinidade é ela que comparece e vice-versa. - Revelou Soll em alto e bom som.


ESSA COBRA! Dá para acreditar, jogando minhas amigas Anas debaixo do ônibus mesmo depois da queda de seu reinado. E a Ana Carol que tinha ficado do lado de fora só observando o grande evento, apareceu timidamente e se revelou. Todo o restaurante arregalou os olhos e gritou exclamações. Mas a “Dissimulada George” não parou por aí e seguiu com as ofensas:


- Ah, Raiman, você acha que se safou? Meu querido, não se preocupe, você vai ter o que merece. Quantas aulas você atendeu? Nenhuma? Bem que pensei! Ele falta todas para ficar paquerando as meninas na cantina. Quando descobrimos isso ele se desesperou para manter sua imagem de bom moço para os seus pais, que são conservadores e jamais apoiariam esse tipo de atitude. Certamente dariam um jeito de tirá-lo daqui e acabaria com o seu sonho de ser um dos maiores comunicadores desse país. Então, por pura compaixão, trocamos nosso silêncio por alguns favores. Ao nosso mando ele descobriu grandes partes dos segredos que estão aí para todo mundo ver agora. E você… você… sua…


Não aguentei mais um segundo e interrompi a víbora, não suportava mais: os risinhos irônicos de Clara, o deboche de Vanessa e principalmente o tom de superioridade de Soll enquanto falava todas essas calúnias! Que bom que Ana Maria era uma boa estrategista, e sugeriu de guardar uma das bombas para justamente ser uma carta na manga. Sem mais delongas, revelei para todo o RU que tal segredo era esse:


- Pode parar por aí… Engraçado que vocês tem papas na língua para falar de todo mundo, mas ninguém imagina a podridão que você fez.


A vida das poderosas já estava prestes a ser totalmente desvendada, afinal esse babado poderia acabar com toda a reputação que um dia elas criaram, a cereja do nosso bolo. Essa era a hora, a hora do MEU show:


- Elas parecem apenas um trio de meninas egoístas, mas por que você não contou Soll? Que foi expulsa da melhor faculdade de Beverly Hills depois de ficar com o diretor da Faculdade? Teve que vir direto para a UFBA e ainda tá se relacionando com gente grande daqui só pra não reprovar.


Óbvio que ela não iria ficar calada:


- E você não vive sem mim, né? Seguiu os meus passos para observar a minha vida e ainda se misturou com esse pessoal: Ana Carol e Ana Maria, que estão simplesmente mentindo para um órgão público, mas você… você é a perfeitinha, ou ninguém sabe que você é filha da Cady Heron? - E ela não parou por aí - O desespero estampado na sua cara me faz rir, você sempre escondia seu sobrenome do meio, não é Caren Heron. É isso aí gente, a mãe dela foi a talzinha que empurrou minha mãe para ser atropelada por um ônibus. Notei que não tinha algo certo com você à primeira vista, e fiz minhas investigações, ou melhor, Felipe Barigchun fez as análises. Deixou você se aproximar dele para plantar uma escuta na sua bolsa. Se liga minha filha, essa busca incessante, essa sua fixação com a gente, vai se tratar garota!


Como ela OUSOU? Não acreditei! Tinha certeza que tinha limpado todos os rastros, que inferno! Paguei um hacker para tirar tudo o que tinha sobre mim e minha mãe da internet. Quem ela acha que é para contar uma dessas mentirinhas sobre minha mãezinha? Foi depois de começar a andar com as poderosas originais que Cady ficou fútil e fofoqueira. Eu tinha que fazer algo por aquela que me criou, fazer essas patricinhas pagarem! Estragar minha vingança perfeita, meu trabalho de anos? Ingressei nessa universidade por causa disso! Cobra cascavel sempre quer sair por cima de todas as situações. Tudo começou a girar e a girar, mas ainda bem que Naca estava lá comigo, me parou antes da minha síncope completa. Ana não tinha apenas 1 fofoca, ela tinha uma lista gigantesca que podia acabar com a vida de qualquer uma ali.


- Não queria contar isso, mas já que vocês insistem…


Agora que o fim foi declarado e elas já não tinham mais pra onde fugir era possível ver nitidamente o suor escorrendo na cara sínica e maquiada da Soll, a Vanessa se escondendo no meio da multidão, Clara e Felipe estavam prestes a correr e deixar a amiga em apuros, enquanto Naca continuava com o seu discurso em alto e bom som:


-Respeitável público, se preparem, máscaras vão cair após essa edificação, a maior e mais comprometedora polêmica de todas…


A bomba estava por vir, os olhares atentos se voltaram para ela. Afinal, o que de tão mais grave as poderosas tinham feito? O silêncio se ecoava pelo RU, mesmo lotado de pessoas era possível apenas escutar a respiração ofegante de todos. A curiosidade dos colegas deixavam “as Poderosas” cada vez mais acuadas e com medo do que poderia vir a acontecer. Mas me juntei à Naca e falei.


-Não pensem que elas são apenas garotinhas egoístas e que apenas roubam o namorado de vocês! Quantos celulares sumiram só nesse último mês?


Ana Maria caminhou por todo restaurante mostrando a foto do QG das poderosas, o apartamento que as três dividiam. Eram milhares de celulares espalhados, carteiras e mais carteiras, mochilas empilhadas. Pela quantidade de coisas no retrato, as Poderosas tinham furtado de provavelmente todos os estudantes da UFBA!



Foi aí que a confusão se instalou de vez. A Soll, que até então estava calma, foi consumida por uma raiva paranormal. Ela não se conformou com o que foi dito e pegou um copo de suco que estava em uma das mesas e jogou na cara da Naca. Ana Carol por sua vez, não deixou barato, pegou uma torta e jogou na cara da Soll. O RU se transformou em uma verdadeira guerra de comida, com muita gritaria e bagunça para todos os lados. Quem estava reconhecendo seus pertences na fotografia também partia para a pancadaria. Perto das paredes havia gente gritando: “Briga! briga!”. Unhas postiças voando, quem tentava apartar todo o caos era pego no meio na briga generalizada. As nojentas xingando e se estapeando, parecia uma selva de verdade! Ali ninguém era amigo de ninguém: levei soco, pontapé, purê de batata no cabelo, mas não deixei barato - dei tudo em dobro!


Com todo esse caos instalado foi quase impossível ouvir a sirene da polícia chegando, as luzes vermelha e azul anunciaram a chegada da viatura no quarteirão. Toda aquela algazarra se transformou em um clima de medo, aos poucos as pessoas iam se afastando e a aglomeração se dissipando, deixando apenas os originalmente envolvidos na briga ao centro. Quando a sirene da polícia ficou mais perto só se ouvia cochicho das pessoas:


-Acho que agora deu merda


-A gente não fez nada, só esse grupinho ai


-Vamos embora logo guys.


Em questão de segundos a polícia já estava na porta com o diretor para acabar com a energia selvagem que existia por lá. As pessoas que sobraram abriram caminho para as autoridades. Eles deram de cara com o grupinho das Poderosas sujas de torta, descabeladas, com unhas perdidas, roupas com marcas de maquiagem e rasgadas.


Com a chegada da polícia todas tiveram que ir para a delegacia depor, inclusive eu. O ambiente parecia a volta de uma festa bem “sexo, drogas e rock’n roll”, mas na verdade era apenas uma briga de faculdade. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida, mas advinha? As poderosas estavam lá arrumando seus cabelos, colando o cílios que haviam caído e passando base por cima de cada arranhão que tinham em seus rostos. Afinal, criminosas sim, feias jamais né?


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