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Desconfianças: Segredos prestes a serem revelados

Salvador, Bahia 26/09


Hoje no intervalo fui até o refeitório tomar um milkshake, nesse período o RU fica lotado, o que não é novidade para ninguém, mas hoje estava pior que os dias anteriores e com um barulho absurdo. As filas que davam acesso aos balcões de pedidos pareciam não ter fim. Para piorar a situação, as caixas de som que ficam disponíveis por todo o espaço estavam tocando umas músicas insuportáveis, fiquei uma boa parte do tempo me perguntando quem foi o ser abençoado que escolheu aquela playlist de mau gosto. Então, não demorei muito, entrei na fila e aguardei o momento de pegar o meu pedido. Mas, após finalmente conseguir meu lanche, tive que enfrentar uma outra luta, pois fiquei um pouco perdida em meio a multidão de estudantes que se esbarravam em mim o tempo inteiro. Depois de muito procurar, consegui achar uma mesa disponível. Mas adivinhem? Estava localizada ao lado da imensa mesa em que “As Poderosas” tagarelavam sem parar. Como não tive muita escolha, me aproximei e me sentei discretamente.



Enquanto tentava tomar o milkshake, que estava derretendo por conta do calor, não pude deixar de escutar o que estavam falando. Elas não mediam palavras com as suas afirmações, discutiam entre si sobre uma caloura do curso de nutrição chamada Ana Carol e como ela tinha comportamentos estranhos. Era notório, pude perceber pelo tom de voz, o quanto todas estavam incomodadas com as mudanças repentinas da sua colega e se questionavam:


- Vocês repararam que a Ana Carol está diferente hoje? - Disse Soll, que logo em seguida é interrompida por Clara:


- Tem como não perceber? Até ontem ela estava usando macacão, sandália de couro e top de crochê. Não estou julgando ninguém de ser hippie! 2021 gente, por favor. Mas hoje já veio com blusa social, saia e salto. O que é isso, um circo?


Em questão de segundos deram uma pausa na conversa, apontaram e acenaram para uma garota meio peculiar de cabelo curto e escuro. Usava óculos de sol, uma bolsa enorme da Nike e salto alto, tudo indicava ser a menina que elas estavam falando. Então, elas a convidaram para se sentar na mesa, e quando uma das meninas sugeriu pedir um suco de carambola, o suco favorito da Ana Carol. Para surpresa de todos ela discordou e disse que tinha alergia a esse tipo de fruta, e das sérias, que não poderia sequer se aproximar e que seu corpo ficava vermelho e inchado. Todas ficaram sem reação e tentaram disfarçar o climão que rolou. A Vanessa quase soltou uma fora:


- Mas nós tomamos esse suco… - começou sem ter entendido a situação, e Soll logo cortou, aquela é rápida e mais afiada que uma faca:


- Ah, perdão! Nós nos confundimos, ela quis dizer suco de acerola, né, Clara?.


Depois desse banho de água fria, as três que não são bobas nem nada trataram de inserir um outro assunto na conversa:


- Que tal assistirmos um filme na sua casa, Ana? - indagou Soll. Ela demorou alguns segundos para responder e posteriormente começou a inventar inúmeras desculpas, dentre elas que a TV do quarto estava com problema e tentou fugir do assunto inúmeras vezes. Foi quando a Soll deu o bote final:


- Então está combinado, nos encontramos amanhã às 18:30 na sua casa, prepara a pipoca que do resto nós cuidamos. Sem ter muito o que fazer, e desanimada com o rumo da conversa, Ana respondeu que estava tudo bem.


Assim que a garota misteriosa se ausentou elas seguiram conversando, dessa vez com um tom mais baixo que quase não se dava para escutar e a única frase que consegui captar foi: “Essa semana nós desvendamos esse mistério”.


Me pergunto: A qual mistério elas estavam se referindo? O que elas estavam pretendendo fazer? Coisa boa não deveria ser, tenho certeza. Daria tudo para virar uma mosquinha hoje a noite e saber tudo sobre essa arapuca que as três cobras corais estavam tramando.


Fui tentar me aproximar dessa tal de “Ana”, sabe, me compadeci. Imagine de repente ser obrigada a fazer sala para as poderosas por livre e espontânea pressão. Ela saiu tão azuretada da mesa, que por pouco não bateu com a cara na porta de vidro localizada a sua frente e quase não me escutava chamando-a. Quando me viu, fui logo me apresentando e reforcei a ideia de que agora ela teria uma aliada aqui dentro, tentei mostrar com sinceridade, e peguei o seu whatsapp. Essas três patricinhas de araque acham que podem fazer o que quiserem? Pois, nem vão ver o que as derrubaram quando elas caírem!


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